Bem, eu tava fugindo de alguns assuntos du jour por receio de falar demais e sair apedrejada, mas vamos lá:
Qualquer um que frequente ao menos um blog hype, já sabe do trailer do filme "Do Começo ao Fim" (link aqui, da única página que o Youtube não pode remover). Bem, polêmicas e cinema não só andam de braços dados, como na maioria das vezes produzem os melhores passos de valsa.
O que me incomodou no trailer, longe da proposta, foram as atuações dos quatro atores responsáveis pelos dois papéis principais - As crianças são até desculpáveis, mas os dois adultos? Eles são lindos e tal, mas muito, muito forçadinhos - Deus meu, será que para uma responsabilidade tão grande não tinha alguém mais preparado? Representação de incesto homossexual não é pra qualquer Malhação-boy não!
Melhor ainda, porque não colocaram um preparador de atores, como a excelente Fátima Toledo (entenda o porquê aqui e aqui)?
Meu maior temor é de que isso venha a prejudicar o filme, que no trailer demonstra que pode ser um dos melhores do ano com uma fotografia belíssima e uma abordagem corajosa e tocante do tema, além de atores maravilhosos girando em torno dos principais - basta mencionar que Júlia Lemmertz já trabalhou com Abranches no filme "Um Copo de Cólera".
Não quero formar opinião antes de ver o filme, mas fiquei um pouco angustiada com isso. E agosto ainda está longe...
O outro assunto é o filme que acabei de assistir "Star Trek", que na minha humilde e ignorante opinião é um dos melhores da franquia. Se isso vai me fazer perder a medalinha de escoteira Trekker ainda não sei, mas vamos lá, de novo: Só eu levei a sério a proposta do diretor J.J. Abrams ?
Bem, não sou a única a perceber que existe uma definição bem clara na postura do diretor:
"J.J. Abrams jogou limpo com os fãs de Jornada nas Estrelas. Em determinado trecho do filme, que abriu hoje (8/5) em todo o mundo, Spock (Zachary Quinto) explica aos tripulantes da ponte da USS Enterprise, e a toda a audiência, que a volta de Nero (Eric Bana) no tempo e a destruição da USS Kelvin criou uma realidade alternativa, a que eles vivem naquele momento."Porém muita gente, Trekker or not, tem levado o filme como um prólogo enfático da série clássica ou como um recomeço da franquia em novas roupagens... Pode ser, levando-se em conta o ponto de vista mercadológico, mas fica claro no filme que é uma realidade alternativa, com parâmetros a la DC Comics.
(Trecho retirado deste artigo - Contém Spoilers)
Explico.
Quem tem uma certa bagagem nerd provavelmente já ouviu falar da saga "Crise nas Infinitas Terras", onde a DC tentou desesperadamente resolver um problema comum nos quadrinhos americanos - Cronologias e Origens em conflito. Como a maioria dos grandes heróis da casa foram criados nas décadas de 30 e 40 e passaram por muitas mãos (desenhistas e roteiristas), chegou-se ao cúmulo de não conseguirem determinar quais eram as linhas do tempo certas para cada personagem: Super Homem foi ou não foi Superboy antes de ir para Metrópolis? Teve ou não teve um Supercão? Lanterna Verde era Hal Jordan? Ou era Alan Scott?
Enfim, para convergir de vez e dar cabo aos conflitos, a saga da "Crise" postulou que existiam diferentes Terras em realidades alternativas, numa o Super Homem nunca tinha sido Superboy, na outra o Superboy coexistia com o Super Homem, na terceira Superboy era o Super Homem na adolescência, etc. No final da saga, as existências paralelas deixaram de existir e convergiram para uma só, mas volta e meia a DC lança histórias dos chamados "Elseworlds", onde os roteiristas tem carta branca para viajar na maionese (como colocar Batmam como um capitão de navio do século XVII que combatia o pirata Coringa, ou como egiptólogo em busca da estátua do deus Morcego!).
No fim das contas outras sagas surgiram para corrigir ou reformular o resultado da série "Crise das Infinitas Terras", mas o conceito de realidades paralelas coexistentes, o chamado Multiverso, permaneceu e possibilitou inúmeras obras de arte em termos de criatividade e mantiveram vivas todas as interpretações dadas a cada personagem - em algum mundo, o Superboy existe, mesmo que não seja o mundo principal (convencionado como Terra 1). A coisa fica muito confusa para quem não gosta ou não acompanha quadrinhos (vide essa tabela absurda).
Mas é nesse conceito que eu compreendi o novo "Star Trek". Sem derramar spoilers, fica claro ao longo do filme que a realidade apresentada ali não é de forma alguma a realidade da linha do tempo da Série Clássica, nem de todas as outras franquias subsequentes. Essas realidades coexistem (isso também fica claro no filme), mas apesar de uma interferir na outra, elas não se anulam. Mercadológica ou não, essa saída literária de forma alguma arranha o que já foi feito em termos de Jornada e possibilita que se dê outra interpretação às relações entre personagens e às abordagens já feitas do universo criado por Gene Roddenberry.
Bem, posso ser aniquilada por um feixe de phasers por defender essa teoria e mesmo que aceita, ainda assim posso ter deixado passar batido outros erros (não vou nem passar perto de toda a discussão sobre a descoberta dos Romulanos ou se a narrativa nunca deveria ter sido colocada no final do filme) mas o fato é que eu adorei o filme novo, como já disse em comentários no blog do Daniel, principalmente pelas atuações.
Anyway, para quem considerar um reboot e quiser mergulhar de cabeça nessa questão, o artigo de Leonardo Martins para a Trek Brasilis ("O que entrou pelo canon com o novo Star Trek") dá uma mega ajuda.
Reclamações (e pedras) à gerência.
Um comentário:
Mas com certeza esse filme vai gerar uma nova franquia, então, esse universo paralelo é que vai passar a ser o principal de agora em diante.
concordo que já fica difícil contar uma história no cinema (público maior) dentro de uma cronologia de 28 temporadas e 10 filmes sem apelar a esse recurso, mas a questão principal do filme nem é essa. sobram ação e efeitos, mas faltou aquele questionamento filosófico típico de Jornada. Ficou "Jornada para quem tem DDA".
Postar um comentário