3.9.10

Life on Mars?

Menos de 10 minutos após a postagem anterior, esbarrei com a Sam (prima-amiga-irmã, não necessariamente nessa mesma ordem) no G-talk. Não deu pra fugir do assunto que tem predominado todas as minhas conversas atualmente.

Semana passada ia postar aqui sobre a reunião e balada com meus velhos amigos, sobre como todos sentamos e reclamamos das mesmas coisas que venho reclamando aqui "Falta de Tempo", "Problemas acumulando por todos os cantos", "Cansaço", "Dificuldades", etc. Mas me senti um pouco samba de uma nota só e evitei falar; inclusive sobre como às 3 da manhã todos já queriam ir embora.

A grande questão é que ainda não envelhecemos. Não o suficiente. Nem tanto fisicamente, mas um tanto quanto mentalmente, talvez. Mas de alguma forma, não nos tornamos aquilo que esperávamos de nós mesmos há 10 anos atrás. #LegiãoUrbanaFeelings

Mais que os outros, sinto as bolhas de pressão social sobre a minha cabeça - ainda não completei os ritos de passagem finais da juventude rumo a fase adulta: Não casei, não me formei (ainda), não tive filhos, não moro sozinha, não sou dona do meu próprio nariz, não pago meu IPTU. Porém, um pouco mais que eles, abri mão publicamente de alguns desses itens em troca de outros objetivos. Isso não me torna melhor que ninguém, mas me torna um pouco menos desesperada, afrouxa um pouco as amarras cotidianas. As que escolhi em troca, não me apertam tanto, pois a maioria da população mentalmente sã deste país as considera irrealizáveis.

Já eu as considero indispensáveis à minha existência.

Essa equação sobre o peso dos problemas e escolhas também faz parte da vida das pessoas conhecidas que se permitiram ousar um pouco em suas escolhas, em maior ou menor grau. Ter um Why, visualizar um objetivo, por mais que seja absurdo ou extremo, dá um sentido especial as sub-rotinas tediosas e consumidoras de energia vital. Uma espécie de bateria extra que empurra contra a corrente. Mesmo assim, tem dias que cansam, que esgotam e parece ainda mais duro ter que fazer o contrário daquilo que todo mundo faz. As vezes me pego invejando o Aurea Mediocritas alheio, seduzida por seu manto acolhedor e confortável.

Mas que conforto é esse, se olho em volta e vejo que aqueles que cederam sem maiores questionamentos parecem ainda mais infelizes do que eu?

Ceder é fácil. E quando falo em ceder, não falo simplesmente em escolher um ou outro item da lista de "adultos responsáveis" e mesclar aos seus próprios ideais e caminhos. Falo daqueles que compraram o pacote pronto, sem questionar por um segundo se seriam felizes com o que fazem. Não adaptam suas escolhas à realidade e sim compram a realidade como se fosse sua única escolha. Cursam faculdades sem questionamentos, relacionam-se sem grandes paixões, trabalham sem grandes objetivos, não escolhem móveis - escolhem prestações, não escolhem filmes - escolhem bilheterias, não escolhem livros - escolhem coleções de lugares comuns, não escolhem viagens - escolhem excursões, não vivem aventuras - passeiam, não criam os filhos para o mundo - criam novas versões inseguras de si mesmos, não mudam o mundo, não criam novas palavras, não enxergam contextos nem tem visão do todo. Não vivem, apenas existem.

Agora por apenas alguns segundos, ignore toda a superioridade arrogante do parágrafo anterior... Não vou questionar por que cada um de nós faz as escolhas que fazemos, isso é pessoal e intransferível (aqueles que transferem aos outros as escolhas que fazem são covardes demais para serem considerados), mas escolhemos por que em algum momento, nos pareceu a melhor opção. Os custos dessas escolhas se mesclam aos custos sociais-culturais-emocionais da vida humana diária. Isso é a vida. Então por que não conseguimos realizar 100% daquilo que nos propomos? E, principalmente, por que estamos sempre tão esgotados?

Parece que envelhecer tem algo a ver com elevar parâmetros, então a conquista pequena já não dá tanto prazer, o pouco não satisfaz, os padrões baixos não despertam interesse. Não temos paciência pros mesmos velhos esquemas, nem pras mesmas desculpas. Fazendo ou não aquilo que amamos, vivendo ou não com aqueles que amamos, precisamos de um pouco mais do que antes. Baixar nossas expectativas e desistir dos sonhos só aumenta a frustração. O Aurea Mediocritas parece menos com paisagens bucólicas e mais com um inferno em vida.

Falando com a Sam hoje, acompanhando a discussão do Dan (no blog dele, sobre relacionamentos), conversando com meus amigos na semana passada, lendo outros textos (alguns muito bons aqui) cheguei basicamente a  algumas conclusões (provisórias, sujeitas a alterações em caso de acúmulo maior de maturidade) que:

1- Ter objetivos claros e escolhas fora do comportamento padrão ainda é melhor que simplesmente seguir o fluxo.
2- Aceitar qualquer coisa, só por aceitar (principalmente quando se fala de parceiro-namorado-amante-noivo-marido) é ainda pior que ficar sem. Que é melhor ter alguém que te desafie que alguém que te prenda.
3- Por mais cansativos que sejam os obstáculos, se você consegue resolvê-los e continuar a enxergar seus objetivos, você está no caminho certo.
4- Todos temos um preço a pagar. Se o preço for baixo, os juros aparecem em forma de furstração. Se for muito alto, temos que parcelar e o tempo de espera tem taxas de desespero embutidas.
5- Baixar os padrões de escolha e "finalmente aceitar" aquilo que lhe disseram a vida inteira, não vai te fazer feliz. Apenas vai deixar os outros com a falsa idéia de que eles estão certos sobre a sua vida. E sua consciência vai gritar que todos estão errados, inclusive você que cedeu.
6- As pessoas que verdadeiramente realizaram algo não pensavam em benefícios - carro, dinheiro, estabilidade. Pensavam em sonhos, em fazer alguma coisa diferente, em mudar o mundo.  Isso inclui tanto São Francisco de Assis quanto Walt Disney.
7- Invariavelmente todos nós ficamos cansados ou frustrados. Conformismo é somar cansaço e frustração.
8- Não posso reclamar da vida. Me ocorreu que vivo uma rotina de Gladiador (ironia define): Entro na arena, mato o leão, volto pra casa... Next day, all over again. E se der mole... Nhac! Porém enquanto estou ganhando do Leão, as coisas não estão tão ruins assim.

Foi por isso que falei de sorte no post anterior. Na hora não imaginava que acabaria vindo aqui novamente para continuar o assunto, mas realmente tenho me considerado sortuda. No sentido de que meus leões morrem dia após dia e as escolhas que fiz continuam esperando por mim. 

Vai ser um alívio quando chegar o dia em que poderei estender minha mão e ver cada uma das bolhas de pressão social que pairam sobre minha cabeça explodirem uma a uma com um simples toque. Acho que internamente elas já foram pulverizadas.

Até lá continuaremos todos cansados, querendo mais da vida, do trabalho, dos relacionamentos.

Mas, se possível, nunca frustrados.



We are all in the gutter, but some of us are looking at the stars.

Oscar Wilde
(Lady Windermere's Fan, 1892, Act III)

Um comentário:

Daniel Cassus disse...

Life on Mars ia ser o nome do meu post também. A porra do marciano ainda não apareceu, mas meu chefe novo este mês é uma di-li-ça!