26.11.11

Blow Your House Down

Escrita livre de cu é rola. 

O que faz alguém sentar e escrever sem motivo? Sem pauta? Sem assunto?

Necessidade, talvez. Se eu fosse paga por isso.

Desespero. Por atenção, por angústia, por ansiedade.

Óbvio que não entram na conta tentativas infrutíferas de escrever algo e não conseguir falar nada. Nesses casos há pauta e há assunto, só não existe expressividade que dê conta disso.

No meu caso pode ser qualquer um dos problemas acima, mas também é uma tentativa de pôr em prática alguns novos parâmetros na minha vida (o que inclui alguns itens da lista anteriormente postada). Vou chamar isso de "Resoluções de Década Nova" - afinal, o ano ainda não virou, mas eu já virei a terceira casa decimal.

Um dos problemas de escrever sem assunto é tornar ainda mais evidente 2 defeitos meus: a dificuldade que tenho de editar e cortar temas, partes, capitulos, etc. As vezes vêm tudo na minha mente em sequência e achar um corte e fazer uma síntese se torna um pesadelo. Outro defeito é a repetição explicativa, uma tentativa patética de dar aos meus textos uma assinatura típica, que acaba virando uma exaustiva repetição de recursos (sem muita criatividade) entremeados por um didatismo cansativo e desnecessário. Nesse último caso o remédio aplicado seria ler. Ler bastante e ler muito; trabalhos de diferentes estilos para evitar tanta repetição. Aparentemente não funciona comigo - leio muito e acabo escrevendo sempre do mesmo jeito.

Pior ainda quando tento ser engraçada... (Vide abaixo)

Outro problema é a falta de assunto em si. Não tem coisa que me irrita mais do que ler um texto onde o autor/autora enrola, enrola, enrola e não há argumento. Porém escrita livre não é necessariamente escrita vazia; e cá estou escrevendo outro texto sobre escrever.

Eu deveria jogar a toalha e admitir de uma vez por todas que meu negócio é teoria e metodologia. Ou filosofia da escrita. Ou filosofia crítica da História. Ainda me recuso por que já sou fracassada e desocupada o suficiente sem trabalhar como filósofa. E voltando ao início, não tenho capacidade de escrita pomposa que dê conta da tarefa. 

Sou do tipo que coloca "entremeados" e "cu" no mesmo texto. Se tivesse saco fundava uma categoria pra mim mesma: "metodologia crítica limítrofe aleatória"...

Isso foi uma piada, ok?

Vamos evidenciar mais um pouquinho meu(s) problema(s)... Tenho uma idéia, sento pra escrever, começo a abstrair em torno da mesma idéia e de repente tudo se encaixa naquilo (ou eu dou um jeito de encaixar) e o fluxo de entrada de informações se torna maior que o fluxo de raciocínio. Reorganizo alguma coisa e volto a sentar, mas se não tiver alguma coisa pré-escrita acabo por colocar pedaços dessas abstrações em uma ordem que só faz sentido pra mim, pulando algumas etapas do raciocínio mental. Na hora de revisar, acabo enxergando esses pulos e tentando preencher as falhas, vou explicando cada uma das etapas relacionando com outras. O resultado é uma massa gigantesca e amorfa, pseudo-didática e confusa. Sem cortes.

O que me leva ao desespero final, que é transformar essa coisa em um texto enxuto e concatenado. Sente o drama... Nisso eu levo meses, anos. E ainda fico com a sensação que algumas coisas ficaram de fora, lá na etapa de absorver e regorganizar, e volta e meia remexo em tudo para encaixar mais alguma coisa.

Nessa bagunça nunca termino nada - tenho milhares (não é um número tão exagerado assim, juro) de fragmentos de texto que não tem (ou tem) relação entre si e não possibilitam uma reconstrução do caminho cronológico de raciocínio. 

E não estou falando só de trabalho acadêmico. Sobra muito texto aleatório, coisas que queria falar em algum momento, mas como não processo em tempo hábil, acabo deixando de lado ecolocando a culpa na famosa "falta de tempo para terminar tudo".

Ou seja - escrevo, escrevo, escrevo e nunca produzo nada. Se fosse tecelã teria milhares de pedaços de pano que não servem a uma roupa, nem a uma colcha. Não consigo encaixá-los para fazer um patchwork nem mesmo de um lenço. E eles não combinam entre si. Os tecidos maiores demoram tanto tempo que começam a esgarçar e rasgar antes que eu termine de tecê-los e não resisto a tentação de aplicar alguns remendos no meio do processo.

Então enfiei na cabeça a idéia de que se escrevesse diariamente, talvez conseguiria melhorar e refinar a prática e criar um log de pensamentos. Quase funcionou... Nos dias que a internet caiu, óbvio. Afinal quem mantém um raciocício linear e concentrado com o Echofon apitando?

Tentei então o papel, mas a falta de um mecanismo de pesquisa a um clique de alcance (que nunca impediu ninguém de escrever na era pré-internet) me bloqueou. Minha dependência de uma tecnologia que não ocupou nem metade da minha vida adulta chega às raias da patetice e me senti como a garotinha do vídeo que tateia a revista como se fosse um tablet com defeito.

O que me restou foi a tal idéia de "escrita livre" - que interpretei como sentar e colocar tudo pra fora em uma folha em branco (ou um post, tanto faz), mas só de escrever aqui já saquei de cara que ainda estou dando voltas em busca do meu próprio rabo e presa aos mesmos dilemas. 

Vamos ver até aonde isso funciona. Por enquanto o sentimento é o mesmo - Escrita livre de cu é rola.

Ps: Faixa-título de hoje é um oferecimento do álbum Achtung Baby: B-sides and Bouns tracks - 20th Anniversary Super Deluxe Edition - uma das melhores músicas que já ouvi na vida e ninguém vai me convencer por quê raios ela não entrou em algum álbum do U2. No Achtung até entendo, por que não tem nada a ver com o conceito do disco, mas ela poderia ter entrado nos dois últimos sem problema algum.

Óbvio que eu ia falar do disco, em algum momento. Só aproveitei que a letra tem alguma coisa com o que escrevi hoje.

Acho.

You've been along this road so many times,
Nothing should be a surprise to you...
Seen every premeditated crime,
From every possible point of view.

Why, if it's so wrong, does it feel so right
?
(...)
 

What of chaos is the thing you crave?
Is it the taste of self-inflicted pain?
And what of losing is your drug of choice?
Is it what keeps you coming back again?


She... she's gonna blow your house down...
She's gonna turn your head around.
She's gonna blow your house down

2 comentários:

Daniel Cassus disse...

Acho que lerei o seu texto (ou partes dele) pro meu shrink na sessão de hj

Em tempo: KD meu clone do seu AB!? Quero até do álbum original.

te levo o AB-The videos.

wair de paula disse...

Wow! Adorei esta confusão de argumentos, não sei porque lembrou-me Kerouak, que adoro tb. Abraços!