20.9.11

The Iron Sea

Eu não sei lidar com dificuldades. 

Há muito tempo atrás, saí de uma situação como a grande vilã do momento. Na época não me importei. Parte por que realmente tinha responsabilidade nas decisões tomadas, outra parte (consolidada com o tempo) por que achava que meu afastamento era melhor que minha presença.

Meu afastamento sempre me deixou mal por conta de pessoas não envolvidas diretamente. Gente que eu gostava e gosto de graça, sem maldade, sem nenhuma segunda intenção. Mas eu me via como a vilã, então achava que qualquer aproximação poderia ser maldada.

Daí que as pessoas vivem, crescem, casam e eu não estava lá. Nem pra contar uma piada, nem pra aplaudir um sucesso, nem pra apoiar uma escolha. 

Acabei me contentando com pouco - saber que fulano está bem, que conseguiu um emprego, que pintou o cabelo e dava um sorrisinho pra mim mesma "estão todos bem, não fui tão má assim".

No fundo eu sabia que não era vilã alguma, talvez só de pastelão. Daquelas que não desejam mal de verdade, mas metem os protagonistas em encrencas malucas, das quais eles saem e aprendem uma lição de vida rumo ao seu próprio final feliz. Minhas aparições se limitam a participações não tão especiais assim.

Mas no fundo de um oceano, ficam sentimentos não ditos. Os maus nunca foram meu forte: não consigo ter raiva de ninguém por que só consigo ter raiva de mim mesma. Não acredito que ninguém esteja errado por que eu sempre estou errada. Não consigo invejar ninguém por que o que quero pra minha vida, ninguém fez ou vai fazer. Os bons são os piores, por que morrem sufocados: Não consigo expressar amor por que me acho ridícula. Não consigo acalmar por que fico nervosa. Não consigo acalentar por que tenho mão pesada e sentimentos brutos. Não consigo apoiar por que não me considero estável. Não consigo acudir por que me considero inútil.

Nesse mar de omissões e mal entendidos vagam amizades que não morreram dentro de mim, mas se perderam em meio a falta de coragem.

Então um dia, veio uma mensagem com uma boa notícia. E uma pontinha de coragem tomou conta de responder com felicitações e desejos de sorte. Os desejos não se realizaram e a segunda mensagem foi triste, a pior notícia possível. Eu gelei em frente a tela me perguntando se era culpada por isso. Não era, mas parecia. Uma vez ex, sempre ex. 

E toda a retórica voltou com força. "Se eu não tivesse dito nada, apenas torcesse em silêncio, não teria acontecido"

Voltei ao fundo do mar e não me manifestei mais. 

Então outro dia veio outra notícia. Dessas tão surreais que se torce pra que não seja com alguém próximo. Mas é. Próximo a ponto de sentir a dor e o desespero, mas não tão próximo a ponto de poder oferecer ajuda e apoio imediatos. 

E eu me olho sem saber o que fazer. Olho pras minhas mãos e elas digitam tremendo aquilo que não posso dizer. Ainda assim, elas não poderão fazer mais que isso.

O que eu queria era poder estendê-las. Poder dizer alguma coisa. Dar um abraço em silêncio. Um pouco de apoio. 

"Não foi sua culpa"

Se eu tivesse coragem de verdade, talvez um pouco mais. 

"Quando nos sentimos culpados, mesmo que não haja intenção, nos trancamos por dentro. Nos sentimos indignos de vivenciar qualquer outra coisa e oferecer qualquer sentimento por que o erro, por menor que seja, torna o dano irreparável. Mesmo que tudo seja apenas um acaso cruel, nossos pequenos deslizes, decisões erradas ou falta de atenção nos tornam invariavelmente agentes do destino. E não há como voltar no tempo e refazer tudo. Porém o pior é deixar que isso cause mais danos, que deixemos de nos envolver, de sentir, de viver. Sufoca o que ainda temos de bom a oferecer, a todo o bem que ainda podemos causar e a toda mão que podemos ofertar. Por que a dor nunca vai morrer. Deixar de viver não é deixar de sentir. Não estar lá só isola a dor dos outros sentimentos bons que poderiam vagar no mesmo espaço, trancar dentro de si e viver entalando, não voltar nunca mais a contribuir.

Não faça isso. 

Não mate o que há de bom, mesmo que seja pra não causar mais mal."



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