7.5.12

Ratamahatta


Sexta-feira, aproximadamente oito e vinte da manhã:

Mais um dia de sardinha, amassada dentro do metrô. Não faço idéia qual a capacidade máxima de transporte de cada vagão, mas meu corpo prensado contra a porta, o cotovelo que cutuca minha lombar e os três braços por cima dos meus ombros me dão a impressão que ela já havia sido ultrapassada dois pontos antes de eu entrar. Sorte que o guardinha me empurrou pra dentro.

Sorte... 


O trecho mais longo sem paradas da viagem começa em Triagem. O sufoco da imobilidade prensada acaba assim que começa a visão do engarrafamento infernal no entorno das obras do Maracanã.  

Melhor sardinha em lata que frita no sol... 

Mas antes do Maracanã, a lata começou a abrir. Literalmente. Justo no trecho mais longo, quando o metrô acelera mais, bem na curva que passa pelas obras do "Minha Casa" eu quase perdi a minha vida. A porta começou a abrir, as mulheres do vagão feminino a gritar, o trem a sacudir, a sirene a apitar... e eu na porta, vendo minha mochila sendo lentamente movida pela força centrífuga. 

Ou seria centrípeta?

Porra eu vou morrer pensando nisso?

Tá, a porta abriu uns 10 cm. Mas só não abriu mais por que as destemidas (ou apavoradas) mulheres da porta começaram a segurar e forçar a porta a fechar. Maracanã - porta abre, porta fecha, metrô anda e porta abre de novo! - São Cristóvão - abre, fecha, anda, abre, alguém grita: "segura até a próxima..."

"Próxima estação, Cidade Nova. Atenção para o vão entre o trem e a plataforma. 
 Next Station, Cidade Nova. Mind the gap."

Desce todo mundo, trem evacuado. Prova de que estamos no século XXI: celulares em riste começam a filmar. Gritaria, confusão. O metrô vazio e parado sem nenhuma explicação. As pessoas dos outros vagões sem entender o que se passa. Só quem viu a porta abrir na curva sabe a resposta.

"Vão mandar um vazio direto da garagem"

O próximo vem como o anterior, torcendo as leis da física de tão lotado. Fica parado por mais tempo que o necessário. O seguinte vem do mesmo jeito. E a multidão do lado de fora.

Olho pro relógio e são nove e cinco. Saio da estação passando pelo guichê de vidro onde estão reunidas umas cem pessoas. Elas gritam e socam o vidro.  

Na verdade, algum tipo de plástico, talvez acrílico

Não sei qual ônibus pegar, mas sardinha nervosa não volta pra lata. Um senhor aposentado me ajuda - coincidência ou não, ele trabalhou no mesmo prédio onde eu trabalho - A conversa dele me acalma no ônibus, praticamente vazio. O trecho é curto, mas tem obras na Lapa. Bato o ponto exatamente às nove e trinta e nove.

Sábado, entre uma e duas da tarde:

Acorda às 6 horas, acorda novamente às 8 e novamente às 10. 

Ao meio dia desisti e peguei um café na cozinha. Voltei pra cama. Uma hora da tarde levantei e liguei a tv. A MTV passa Sabotage do Beastie Boys, um dos meus trocentos clipes favoritos (não por acaso, um dos melhores já feitos). Me animo a escovar o dente e pegar outro café.

 

Quero ver o dia que Hermes e Renato admitirão que chuparam essse vídeo...

Depois de ter passado o fim de noite enchendo o saco de todos contando a saga da sardinha, combinamos de ir ao show do Korzus e Sepultura. Pra quem queria ir no Duran Duran mas não pode gastar 180 pilas, o Viradão Carioca é gratuito.

Ok, eu já gastei 200 pra ver DD em 2008. E 50 pratas pra ver Sepultura + Metallica em 1999. Fora os ingressos do Rock in Rio 3 em 2001, com Iron Maiden e Sepultura.

Viradão Carioca é um nome horrível. 

Era para ter ido na Virada de SP esse ano, mas não deu. Ainda bem, por que minha coluna ainda sofria os efeitos de sexta. Quem não tem 400 atrações vai de uma só no Rio mesmo. Subi a tempo de ver a MTV passar outro clipe dos Beastie Boys - o clássico (You Gotta) Fight For Your Right (To Party) e emendar na sequência o primeiro deles No Sleep Till Brooklyn. Antes que eu pudesse comemorar que a MTV tinha tirado o dia pra homenagear a banda, entra o ex-marido da Débora Falabella dizendo que um dos caras, o MCA, morreu de câncer nessa sexta.

Merda.


Estranho lembrar a condição civil de um sujeito sem lembrar do nome dele. Tenho que parar de visitar sites de fofoca...

Não peguei a primeira onda dos Beastie Boys. Na verdade só conheci a banda na segunda onda de sucesso, na década de 90 quando saíram Sabotage, Body Movin' e a genial Intergalatic.


Era a era de ouro dos videoclipes e justamente esses três clipes foram dirigidos por Adam Yauch (MCA), que além de membro fundador da banda, se tornou produtor cinematográfico e diretor de filmes. Ele também é um dos responsáveis pelo lançamento de Exit Through The Gift Shop (documentário sobre a obra de Banksy) e mais recentemente pelo longa Precisamos Falar sobre Kevin

Só fui conhecer o resto da obra dos Beastie Boys mais tarde, com o advento do torrent, mas até ontem não sabia muito sobre MCA e seu trabalho como diretor/produtor. Curiosamente a banda havia relançado quase todos os seus discos em edição de luxo recentemente e ano passado cheguei a tuitar um trailer do que seria o novo clipe deles: Make some noise - uma faixa do novo álbum cujo clipe revisitava (You Gotta) Fight For Your Right (To Party) como uma espécie de continuação, cheio de participações especiais de Susan Sarandon a Elijah Wood, passando por Will Ferrell e Jack Black. O tal clipe virou um curta de 30 minutos chamado Fight For Your Right (Revisited) Full Length, que a MTV passou na íntegra ontem.

Achei digno que eles tenham fechado a programação só para prestar homenagens. Deu saudade da época em que a MTV era boa.

Falando em homenagens, justamente o episódio de Futurama com os Beastie Boys tem uma coincidência horrível:  MCA foi o único a não participar da gravação.

Sábado, entre onze e meia-noite:

Quinta da Boa Vista. Eu sei, era pra estar lá durante o dia, mas ainda assim fiquei emocionada. Sempre fico.

Principalmente ao olhar as 20 mil (ou mais) pessoas que ocupavam o vão baixo do gramado em frente ao Museu. O show foi ótimo, maravilhoso mesmo. Tranquilo e gratuito. 

Por quê não fazem isso sempre?

O ápice foi o cover de Titãs, Polícia, quando os policiais de plantão começaram a dançar na guarita e filmar com seus celulares. Não tinham nenhuma ocorrência para atender, então por que não curtir um pouco? Acho simbólico que vivamos um momento tão democrático onde a polícia existe mesmo para te ajudar e para te atender. Nada mais.

Mas o clímax sempre é Roots, né? 

Não. Pra mim foi essa aqui:



Taí outro clipe da era de ouro. Parece eclético, mas não é... Assim como Beastie Boys, Ratamahatta do Sepultura remete diretamente às minhas raízes... Talvez mais que Roots, Bloody Roots.

Pensando bem, o fim do século passado era mais experimental: Rap com rock, metal com cultura brasileira... 

Domingo, três da manhã:

Cacete, o mudaram o cardápio do Habib's!  

Mas continua a ser a única bosta aberta no Meiér a essa hora.

Domingo, cinco da tarde:

Shopping cheio. Lotado. Com direito a jogo importante no Engenhão... Mas eu fiz uma promessa (pra mim mesma) e eu que me foda pra cumprir. Não foi nada religioso, mas é dívida do mesmo jeito. 

E o dinheiro não dá. E roda mais duas horas até conseguir algo.

Finalmente deu. É patético, mas é de coração. Agora segura a ansiedade.

Pior de tudo não foi o presente da promessa, mas o presente de dia das mães mesmo. Ninguém merece circular com uma sacola do Vasco sendo flamenguista em um shopping lotado de botafoguenses e tricolores. Temi pela minha vida novamente.

Falando em temer pela vida, já na fila do táxi as torcidas resolvem se estranhar. E rola mais confusão, gritaria, correria... Assim que consigo pegar um, levo mais uma hora de engarrafamento pra sair de um lugar que fica a menos de meia hora da minha casa. Andando.

Domingo, meia-noite:

Escrevendo o post me dou conta que a tônica do fim de semana é uma só: de volta às origens. 

É o que resta quando a coisa aperta.

Falando em apertar... Dormir, porque amanhã é dia de sardinha e não de caviar.


Ratamahat-mahata-hata
Mahata-hata-hata...

Um comentário:

Daniel Cassus disse...

Centrífuga: que foge do centro